O período de férias aproxima-se do fim... Voltamos às rotinas, é altura de trocarmos algumas experiências das férias.
Este será um post diferente. Peço desculpa antecipadamente se irei parecer pouco simpático, rude ou com alguma falta de humildade, mas Veneza está a morrer. Não mostrarei fotos idílicas, de postais ilustrados, do amor e do romantismo... antes de como um "ecossistema humano" está a ser completamente arrasado...
Veneza está a ser devorada, descaraterizada, violentada, possuída... e todos sem exceção esquecemos que ali vivem pessoas... Os venezianos verdadeiros estão em "extinção"... já são pouco mais de 65000 habitantes. Pretendemos transformar a sereníssima num resort a céu aberto? Iremos querer visitar uma cidade sem alma? Sem a melancolia, as sombras, os cheiros, o DIALETO, a forma de estar que durante anos caraterizaram esta cidade que no fundo sempre viveu de transgressão, de leis próprias, e de uma imagem que se pulverizou no mundo.
É duro ver o campo Santo Stefano vazio, o Sestrier de San Polo sem o Ciaccole - Conversas dos venezianos - no final da tarde. As pontes que se enchem de cadeados, como se o amor por alguém dependesse disso mesmo... não fechem o vosso amor numa qualquer ponte de Veneza... pelo contrário... amem-na, respeitem-na porque ela é uma senhora... La Serenissima.
Para terem ideia na ponte Accademia foram retiradas toneladas de Cadeados... O impacto visual é horrível e a própria velha ponte de madeira está em risco... Se a ponte ruir, ruirá também o amor de quem o ali fechou???
O que significa isto???
Os venezianos estão no limite... Gritam socorro... Por favor caminhem pelo lado direito. as ruas são estreitas e se caminharmos todos lado a lado a circulação é impossível. Aqui vive gente que trabalha, que estuda que procura tornar a cidade sustentável. Os vaporetti são história, são uma bela e única forma de contemplar o Grande Canale, mas são também o único meio de transporte publico da cidade, por isso convém facilitar a vida a quem os usa diariamente. Já pensaram o que sente alguém de Alfama ou Graça, ou da Estrela quando tentam subir a bordo do 28 em Lisboa, ou de qualquer outro meio procurado por turistas.
Veneza vive do turismo, mas se o turismo quer continuar a viver e a ver Veneza teremos todos de cuidar da cidade. O lixo amontoa-se, quando a noite cai, e a altas horas da noite as garrafas, as latas, os papéis gozam a serenidade das marés e percorrem os desertos canais em busca do Adriático.
Os venezianos estão cansados. A cidade está de luto. Em protesto os palácios não brilham à noite, o grande canal fica em silêncio, as cortinas são fechadas. Privacidade impõem-se... O insólito acontece... A necessidade de fazer face à afluência de turistas é tanta que há choque entre vaporetti e gongolas, há engarrafamentos no grande canal... Não é sustentável.
Tirar os cruzeiros da sala de visitas da cidade não está nas nossas mãos, mas cuidá-la sim... temos esse dever... todos temos uma imagem desta cidade... vivam-na, não a consumam... deixo em seguida algumas fotos de final de Agosto último e parafraseando "a cortina" vermelha que cobre o histórico mercado do Rialto escrita em Dialeto... El Cuor non se vende.
Duelo de Gigantes
Luta Desigual
O coração não se vende
Isto é romantismo?
No Rialto não se toca
Carece proteção
CAOS - Viveria aqui?
Basilica e Campanile às escuras
Luto!